A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença auto-imune e possivelmente também degenerativa, que afeta jovens e adultos, com uma predileção para o sexo feminino, e que atinge principalmente as vias nervosas do sistema nervoso central (a chamada substância branca), evidenciando um atingimento preferencial da bainha de mielina que cobre o prolongamento dos neurónios (os chamados axónios) e daí se denominar classicamente uma doença desmielinizante.
A EM afeta cerca de 2.5 milhões de pessoas mundialmente e, de acordo com os dados do Grupo de Estudos da Esclerose Múltipla, estima-se que mais de 5.000 portugueses sejam portadores de EM.
Existem hoje em dia disponíveis vários fármacos imunomodeladores que tentam travar a inflamação recorrente e diminuir o número de surtos, assim como temos disponíveis fármacos anti-inflamatórios (exemplo, corticosteróides) para diminuir a duração e as consequências dos surtos.
A neuro-oftalmologia enquadra-se na esclerose múltipla, porque em cerca de 20 a 30% dos doentes, a apresentação inicial é a ocorrência de nevrite ótica, ou seja uma inflamação/desmielinização do nervo ótico que causa os seguintes sintomas: dor ao movimento ocular em 90% dos casos, simultânea ou a preceder perda de visão num olho que se pode agravar até às duas semanas, recuperando posteriormente de forma espontânea, podendo os doentes depois ficar assintomáticos ou permanecerem indefinidamente com alterações da acuidade visual, perceção da cor e do contraste nesse olho.
O que é uma Nevrite Ótica?
A neurite ótica é uma doença que atinge o nervo ótico, causando a sua inflamação. Ela apresenta-se sob 3 formas:
- Neurorretinite (quando há a inflamação do nervo óptico e da retina adjacente);
- Papilite (quando atinge a papila ou cabeça do nervo óptico);
- Neurretinite Retrobulbar (quando acomete a porção do nervo óptico situada atrás do olho). A forma retrobulbar é a mais difícil de identificar, pois o exame de fundo de olho pode aparecer normal, além disso, é a que tem maior associação com a esclerose múltipla.
O nervo óptico é revestido por uma bainha, chamada bainha de mielina. Essa bainha é indispensável para a propagação de um impulso nervoso de um nervo a outro. Existem doenças que causam a perda desta bainha e a essas são conhecidas como doenças desmielinizantes.
Quando ocorre a perda da bainha do nervo óptico, os sinais elétricos não conseguem chegar à área do cérebro que irá interpretar as imagens e como resultado, a pessoa pode perder parcialmente ou totalmente a visão.
Quais são os seus sintomas?
A nevrite ótica pode manifestar-se de maneiras distintas, dependendo do paciente, mas geralmente, tem um padrão de atingimento que segue uma linha específica, com a tríade clássica da doença:
- Diminuição ou perda da acuidade visual;
- Dor ocular (sobretudo quando movimenta os olhos);
- Discromatopsia, ou seja, uma perceção anómala das cores (sobretudo do vermelho).
Muitos pacientes são atingidos em apenas um olho, mas podem desenvolver sintomas em ambos. No início, o único sintoma presente pode ser a dor.
Com a evolução da doença em si, o comum é que os pacientes percebam perda da acuidade visual. Em algumas pessoas esses sintomas podem ser passageiros, já em outras podem permanecer sequelas, como dor ocular crónica e visão turva.
Quais são as suas causas?
A nevrite ótica pode surgir por diversas causas, inclusive manifestando-se de maneira idiopática, ou seja, sem uma causa aparente. Dentre as principais causas devemos destacar:
- Doenças autoimunes, como a esclerose múltipla;
- Infecções virais (Mycoplasma pneumoniae, varicela, herpes vírus, etc);
- Doenças inflamatórias (tuberculose, sífilis, etc).
Como é feito o seu diagnóstico?
O diagnóstico da nevrite ótica é feito a partir do exame oftalmológico em associação com os sintomas do paciente. Em seguida, o médico pode solicitar alguns exames complementares para definir a causa da lesão.
O oftalmologista pode realizar exames como a campos visuais, OCT, os potenciais evocados (eletrofisiologia) e o exame do fundo do olho (retinografia). Além disso, alguns marcadores sorológicos presentes no sangue do paciente podem indicar a causa da neurite.
A ressonância magnética do crânio, utilizando contraste, é de extrema importância para detectar as áreas de desmielinização.
Exames como o RX de tórax e a punção lombar também são bastante úteis, pois eles são capazes de demonstrar infeções e excluir o diagnóstico de doenças que podem mascarar a identificação de uma nevrite ótica.
Como é feito o tratamento?
O tratamento da nevrite óptica vai depender da sua causa. É importante que a inflamação seja corrigida, mas também é necessário que a causa essencial do problema seja resolvida.
Após o tratamento, existe uma grande possibilidade de melhoria gradual da acuidade visual e da dor ocular. Entretanto esse processo pode levar algumas semanas para acontecer.
Um dos medicamentos mais utilizados é a metilpredinisolona intravenosa. Ela pode auxiliar o retorno da visão, em especial nos casos em que a perda esta ligada a esclerose múltipla.
Um tratamento rápido e eficaz permite reverter sintomas e minimizar sequelas e na neurite óptica não é diferente.
Cuide da sua saúde visual!